segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A TÉCNICA COMO PROVOCAÇAO DA NATUREZA:O Poder e os Riscos da Ciência

Trabalho de Pesquisa
Por Venâncio F. Chaúque e Rui Guedes
Sob Orientação de dr. Samuel Z. Vilanculos
INTRODUÇÃO

A filosofia abarca uma área de acção muito vasta na tentativa de trazer à humanidade reflexões sobre várias inquietações e práticas do nosso dia-a-dia. Um dos temas que suscitam maior debate no seio dos filósofos é, sem dúvida, a acção da técnica como provocação da natureza e, o poder e os riscos da ciência. Estes são os temas que constituirão a nossa pequena viagem em torno da filosofia da ciência.
O trabalho em nossas mãos apresenta uma linguagem simples (achamos nós) de modo que se enquadre em qualquer tipo de reflexão e nível académico. Assim esperamos que a mensagem nele contida possa constituir uma oportunidade para que se possa começar a se pensar nas consequências das aplicações científicas e tecnológicas. Portanto esperamos que todos possam encarar estes pequenos temas, que aqui sugerimos, com uma certa seriedade para a recuperação da dignidade humana e constante busca do bem-estar e de valores éticos reconhecidos, necessários e desejáveis.


I. A TÉCNICA COMO PROVOCAÇÃO DA NATUREZA
Como é de costume, antes e de começarmos a debruçarmo-nos sobre qualquer tema, seja qual for a área de investigação ou de estudo, é necessário conceituar alguns termos-chave que irão conduzir o trabalho. A técnica provém do vocábulo (tekhne) do grego clássico que corresponde a: ‘arte manual’, ‘industria’, ‘habilidade manual’, habilidade para fazer’ - isto no dicionário da língua portuguesa. Assim a técnica seria todo o conjunto de artes e habilidades que o homem possui para transformar ou moldar a natureza segundo os seus objectivos, necessidades e interesses.
A técnica está relacionada muito mais com a prática, com o saber fazer que corresponderá a diversificação das habilidades não deixando de lado a importância da imaginação e inteligibilidade neste processo de criação e aperfeiçoamento da técnica.
Quanto à natureza parece-nos que não restam dúvidas de que todos sabemos e empregamos muitas vezes este termo. Várias vezes dizemos que o actual relacionamento do homem com a natureza não é ‘saudável’ ou seja, o homem é produto da natureza ou ainda, as catástrofes naturais são difíceis de combaté-las. Assim, a natureza deverá ser vista como tudo o que vemos, sentimos e acontece sobre o homem mas sem a influência do próprio homem. Aliás, o homem modifica o que é natural (a natureza) mas não é o criador da natureza.
Agora resta-nos discutir o termo pró-vocação. Pró-vocar (heraus-fordern) significa chamar para frente de si
[1]. Assim, o termo provocação toma dois sentidos de chamamento: em que na chamada para a representação científica a natureza torna-se objecto e, na chamada para a reprodução técnica a natureza torna-se recuso à disposição. Estes dois chamamentos os quais a natureza sofre, estão interligados entre si visto que a ela é chamada pelo objectivo antecipado da ciência (provação cientifica) de modo que esteja disponível perante qualquer pedido de uso do lado do ser humano (provocação técnica).
Heidegger, na provocação da técnica e da ciência perante a natureza, vê uma reproposição do termo verdade como passagem do oculto para o descortinado.
Não querendo entrar em muitos detalhes, conduzimos a nossa reflexão sobre a técnica perante a natureza onde iremos destacar como principal pensador Martin Heidegger (1886 – 1976) o qual dirigiu as suas reflexões sobre as repercussões da técnica perante a natureza. Desta feita, e de acordo com Heidegger iremos tratar desta problemática da técnica em relação à natureza em três grandes linhas reflexivas a saber:

1.1 O novo relacionamento que o homem criou com a Natureza por meio da técnica moderna que é definida por Heidegger como uma provocação à própria natureza. Actualmente a natureza, as forças e objectos naturais são visto pelo homem da técnica moderna como reservatórios ou fundos a partir dos quais se pode extrair energia acumulável. Tomemos como exemplo o mar. Ele deixa de ser uma simples fonte de busca de alimentos (peixe, camarão, caranguejo…), meio de transporte e comunicação, refúgio dos inimigos. Pela técnica moderna, tal entidade com que na Natureza o homem se relacionava dum modo simples (natural), passa a ser vista ou utilizada como fonte de exploração do petróleo e seus derivados, acumuláveis para outros fins. Como se vê, este facto está relacionado com a vida económica das sociedades modernas e que esta é uma realidade condicionada pela técnica moderna. O exemplo que acabamos de dar pode ilustrar esta realidade e que se estende para toda a relação que o homem estabelece através da técnica. Sendo assim, podemos crer que na vida do homem é importante e digno o que for oferecido pela técnica, isto é, o que ele mesmo transformou.
Para Heidegger, os literatos, os poetas e os pensadores é que são responsáveis em pensar nesta situação desenraizadora, da possibilidade de o homem não perder o seu habitat e da sua dignidade pois eles «podem representar na linguagem dos homens a grandeza e simplicidade duma relação “original” com a Natureza e os outros homens.» (MARQUES; SANTOS,1980: 109).

1.2 O segundo aspecto, abordado pelo nosso autor na nova relação entre o homem e a natureza, é a incapacidade que actualmente o Homem apresenta de compor ou elaborar um sistema político que solucione os problemas causados pela técnica moderna.
Pode se entender que os Estados e Homens políticos actuais adaptam-se aos imperativos da técnica moderna dirigindo o seu trabalho para a consolidação e desenvolvimento do imperialismo planetário. Para Heidegger actualmente não se vislumbram alternativas políticas reais ao modelo de Estado e de homens políticos que existem nas nossas sociedades. Desta feita, os actuais sistemas que hoje se confrontam em lutas mortais, têm como pano de fundo pretender impor a sua perspectiva política dentro do mesmo modelo de desenvolvimento técnico planetário.
Heidegger, na sua filosofia, deu maior importância (para uma reflexão filosófico – político) a esta problemática que toca de forma decisiva no panorama político contemporâneo.

1.3 Em terceiro lugar, o pessimismo de Heidegger, leva-o a crer que a técnica planetária e o desenvolvimento das ciências a ela ligadas implica ou tem como consequência o fim da filosofia. O domínio absoluto da técnica em todos os sectores das sociedades actuais teve como resultado a sua estreita associação com as ciências e com o desenvolvimento espectacular destas. Assim, as sociedades modernas dominadas pela técnica e pela ciência deixam de necessitar do filósofo e da filosofia e, daqui em diante, as ciências e os cientistas ocupam, na íntegra, o espaço que dantes era pertença do poder filosófico. Deste modo a técnica criou as condições para que mais nenhum outro tipo de pensamento seja possível senão aquele que directa ou indirectamente esteja ligado às suas exigências; este é o seu papel histórico fundamental já cumprido.
A filosofia perdeu seu valor porque tudo quanto tratava, ou seja, o saber filosófico, tornou se numa “técnica” de pensamento. Por fim lança um desafio de modo que a técnica seja vista como umas das questões mais urgentes e preponderantes e decisivas a que o homem contemporâneo tem de ter em conta.

II. O PODER E OS RISCOS DA CIÊNCIA
Ninguém pode negar os inúmeros ganhos trazidos pela ciência e pela técnica para a vida do ser humano. Assim, a técnica e ciência possibilitaram maior domínio da natureza pelo homem e maior autonomia face aos recursos naturais e às condições ambientais. Com a revolução industrial houve o aumento populacional e de produtividade, fruto do aperfeiçoamento, cada vez mais avançada, da ciência e das investigações cientificas e técnicas.
O desenvolvimento medicinal permitiu o aumento do nível de esperança de vida e libertou o homem de doenças endémicas tais como a malária, a lepra entre outras, que pela ciência são curáveis.
É inegável, também, o acesso à instrução e à informação a nível mundial em tempo real, através do desenvolvimento dos meios de comunicação em massa especialmente a informática e a internete. Os actuais meios e vias de comunicação (telefones, auto-estradas, celulares, TV, jornais, internete, linhas aéreas, marítimas, comboios eléctricos, metros, e.t.c.) são resultados positivos da ciência.
De facto, os resultados da ciência moderna são ambíguos pois, em paralelo a estas alterações positivas as quais ninguém as pode contestar ou negá-las, encontramos alguns aspectos que não podemos deixar de condená-los. «É por isso que a ciência e a técnica suscitam grandes esperanças mas também provocam grandes inquietações que exigem uma reflexão séria em torno do poder e dos riscos que a sua aplicação pode acarretar». (ALVES; AREDES; CARVALHO, 1998: 251).
Como podemos ver, as repercussões que a aplicação da ciência nos conduz não são inteiramente bons ou maus. Há sempre uma ambiguidade na sua aplicação devendo, os seus resultados, serem bons à medida que não põem em causa a dignidade e a saúde do ser humano.
As últimas sobre o estado de tempo indicam que o aquecimento global tende a aumentar ano após ano. Então, o que é que se deverá fazer face a este problema? Eliminar o uso de todas as fábricas, meios de transporte e outras máquinas que emitem maiores quantidades de clorofluocarbonetos para a atmosfera provocando a degradação do ozono?
Poderíamos dar outros exemplos que ilustrassem esta ambiguidade do desenvolvimento da ciência e da técnica. A recente explosão do paiol militar de Malhazine no Maputo significa maior potencialidade que as armas e engenhos explosivos (fruto de invenções tecnológicas ) têm para a eliminação do homem.
Questionamos nós, a tecnologia estará ao serviço do homem ou na aniquilação do próprio homem?
«A engenharia genética trouxe enormes benefícios ao tornar possível a inseminação artificial e a fertilização in vitro ou a prevenção e o controlo de determinadas doenças genéticas». (ALVES; AREDES; CARVALHO, 1998: 252).
Mas colocam-se algumas questões sérias em torno dos problemas éticos que são impostos por esta prática e que requerem maior discussão a nível internacional, nas comunidades cientificas e nas comissões de bioética especializadas para tal.
A destruição do património ecológico nomeadamente a destruição do meio ambiente e de recursos naturais e a poluição da natureza são, de modo significante, consequências do desenvolvimento tecnológica e que preocupa significativamente aos homens pois, colocam em causa a sobrevivência de muitas espécies naturais causando desequilíbrios de ecossistemas e daqui a pouco, estará em causa a sobrevivência do próprio Homem.
A preocupação pela sobrevivência do planeta passa a dominar em muitas sociedades pondo de lado o optimismo e a euforia da revolução industrial. Muitas instituições foram criadas para velar sobre as aplicações da ciência. É o caso de muitos especialistas de bioética que se preocupam pela análise dos resultados da aplicação da técnica.
«Com efeito, a ideia de uma ciência neutra e de um cientista inocente dos usos e abusos das aplicações das suas descobertas, começa a ficar para trás, assistindo-se à tomada da consciência de que, afinal, a ciência é uma actividade político-social, sendo, por isso, que o seu desenvolvimento pode ser orientado no sentido de facilitar e promover a dignidade e o bem-estar dos seres humanos ou, pelo contrario, de reduzi-lo a uma categoria infra-humana, pondo em risco a sua segurança, direito ao emprego e até a sua sobrevivência». (ALVES; AREDES; CARVALHO, 1998: 253).

Os cientistas não podem manter-se indiferentes quanto aos riscos que as suas investigações acarretam, a nível individual, social e moral. A sua responsabilidade não acaba aqui pois, não é legitimo que um cientista, em nome do conhecimento cientifico e investigativo sacrifique vidas humanas através de teste de novas vacinas e medicamentos que, de uma ou de outra forma emperigam a saúde do utente quer a nível psicológico quer a nível físico.

NOTA CRÍTICA
Para procedermos a nossa análise sobre os temas que estiveram em discussão, partimos do seguinte pontapé: «A ciência não pode, hoje, ser considerada como conhecimento certo das estruturas e das leis que subsistem no espaço – tempo, mas deve ser considerada como conhecimento provisório e busca contínua». (CHIAVACCI, 2004: 113).
Assim, auxiliando-se nesta ideia, a ciência e a técnica devem ser uma busca incansável e permanente do conhecimento e de soluções para os problemas que inquietam o homem. É verdade que os homens têm sempre necessidades e razões várias para o uso da ciência e, nesta perspectiva, a ciência terá como função intervir positivamente nas inquietações pontuais dos seres humanos e abrir o horizonte de cognição do próprio homem.
Concordamos com Heidegger
[2] quando diz que a natureza é tida, pelo homem moderno, como stock ou como reservatórios para a busca de recursos exploráveis. Mas ele mostra, de uma ou de outra forma, um certo pessimismo nalgum momento quando refere que a técnica desenraíza o homem da terra e, mais a diante diz que este fenómeno é já uma realidade por isso não precisamos de nenhuma bomba atómica e já não existe uma terra na qual o homem viva hoje.
Se calhar não entendamos qual é o significado do conceito terra. Mas se se refere ao planeta habitado, podemos dizer que até um certo ponto pode ter suas razões de lamentar como muitos outros pensadores da nossa época. De facto desde o seu surgimento, o homem transformou a natureza segundo os seus objectivos pois ele está dotado de poder reflexivo e de inteligência. É esta evolução do homem que permitiu o estabelecimento de novas relações entre o Homem e a Natureza. Esta nova relação parece, na opinião de Heidegger, não ser justa pois «na época tecnológica a relação entre o Homem e a natureza inverteu-se. De servo da Natureza, o Homem tornou-se seu patrão, não um patrão sábio e prudente mas um patrão astuto. Armado de técnicas e instrumentos sempre mais poderosos e refinados, de passivo consumidor de produtos que a natureza punha à sua disposição, o Homem tornou-se um agressor prepotente e um explorador exigente. Na época tecnológica o Homem agride a Natureza e esvazia-a de tudo: ferro, carvão, petróleo, minerais, água, ar» (NGOENHA, 1994: 33).
Como podemos ver, a técnica moderna veio tirar aquilo que estava dentro do solo para fora dele e perto do homem para melhor conhecer a natureza
[3]. E realmente, nestas circunstâncias, Heidegger tem argumentos suficientes de lamentação pois, parece-nos que a técnica e a ciência vieram para dar novos rumos para o destinos da humanidade pois, a exploração de vários minerais e outros produtos da natureza requer técnicas que, duma ou doutra forma, poluem a própria natureza provocando doenças e mal estar à sociedade. Visto que a demonstração desta potencialidade abrange mais a questão política, várias são as guerras que surgem com o intuito de mostrar que o domínio (tecnológico e económico) de alguns países sobre os outros criando ódio, doenças cada vez incuráveis, ira, stress e actualmente, agressões à própria humanidade.
Quanto ao poderes e riscos da ciência e da técnica, parece-nos não haver muitas palavras para comentar ou para discutir pois, muitas foram as vezes que comentamos nas apresentações de temas anteriores a este e que suscitaram debates interessantes e que deram nos a visão de que muita gente está interessante quanto a situação actual do planeta. Porém, devemos salientar que estes dois elementos – a técnica e a ciência – que fomentam novas relações entre os Homens, Homem e a natureza, não são perfeitos nem dignos de inquestionamento. Eles têm os seus riscos que se traduzem em limites de vária ordem que, não logramos mencioná-los pois, o tema em questão não vai até aí. Mesmo assim, tem-se acompanhado uma tentativa cada vez mais crescente de uma reflexão de ordem ética de modo a orientar a ciência e as aplicações tecnológicas para resultados socialmente aceites, úteis e desejáveis; promover a participação e busca de esclarecimento, por parte de cidadãos, de novas descobertas científicas e exigir o respeito pelos direitos humanos fundamentais; responsabilizar o cientista pelos resultados das suas inovações.
As repercussões negativas da aplicação da técnica e da ciência são muitas mas não se pode negar o valor da ciência pois desempenha um papel preponderante no combate ao obscurantismo, à miséria e à ignorância. A ciência deve e tem de progredir porém, o que se pretende é uma reflexão (por parte da classe científica) sobre a sua prática e que contribua mais na promoção do bem-estar e da dignidade humana.
CONCLUSÃO
À guisa de conclusão sobre esta discussão de um dos temas mais polémicos da filosofia (em particular da filosofia da ciência), uma visão geral do que se tratou pode ser importante. Devemos deixar claro que esta abordagem esteve dividida em duas grandes partes interligadas entre si. Na primeira, abordamos a questão da técnica como provocação da natureza onde destacamos um filósofo contemporâneo de nacionalidade alemã que se interessou mais nesta área. Trata-se de Martin Heidegger.
Nesta parte podemos concluir que, como já o dissemos, o autor que se relevou nesta época apresenta um certo pessimismo quanto ao destino da natureza e do próprio tendo apresentado três linhas de reflexão que constituem, ao mesmo tempo, um alerta para os filósofos (em particular), políticos, estudiosos e a sociedade em geral. Essas linhas de reflexão são: a relação nova que o homem estabeleceu com a natureza através da técnica moderna é vista pelo Heidegger como sendo uma provocação. Com a técnica moderna o homem passa de um simples consumidor dos produtos da natureza e cria um desoucultamento, isto é, passa a trazer o que estava ocultado para diante de si de modo a estudá-lo bem e entender melhor.
Em seguida dissemos que a opinião de Martin Heidegger vê a incapacidade que as políticas actuais têm de elaborar ou adoptar sistemas capazes de combater as repercussões negativas trazidas pela exploração técnica.
Por fim lamenta a substituição do lugar da filosofia pela técnica. O papel histórico da técnica moderna e das ciências a ela ligadas foi consumado no momento que criou condições para que não haja outro tipo de pensamento senão aquele que directa ou indirectamente esteja ligado à ela. Assim, a sociedade passa a não precisar da filosofia e dos filósofos pois o saber filosófico sobre a ética, sobre o homem com ser orgânico (moral e espiritual) converteu-se numa técnica de pensamento.
Na segunda parte abordamos de forma intensiva a questão do poder e riscos da ciência. Como pudemos ver a aplicação da técnica e da ciência apresenta uma ambiguidade pois os seus resultados podem ser positivos assim como negativos solicitando sempre a intervenção de todos nós na aplicação sábia e racional das descobertas científicas. Esta parte do nosso trabalho suscita sempre maior discussão e seriedade de modo a encontrar soluções das questões que sempre são colocadas para a reflexão. Assim iremos dar as nossas sugestões de resposta às questões que foram plasmadas durante a explanação.
A tecnologia estará para a aniquilação do próprio homem se os cientistas continuarem a direccionarem as suas pesquisas aplicadas sem ter em conta os aspectos éticos e da dignidade do homem. Neste sentido, a ciência estará ao serviço do homem se se tomar em consciência o papel do cientista e que este tenha uma postura de responsabilidade com o intuito de trazer o bem-estar e dignidade inerentes ao homem.
As industrias e fábricas que libertam gases poluentes devem constituir o ponto de preocupação dos governos de modo que sejam substituídos os combustíveis libertadores de fumos por outros que não sejam mais poluentes de modo a salvaguardar o meio ambiente e o património comum. Esforços devem ser evidados para descobrir novas fontes de energia que sejam “amigas
[4]” do homem que ajudem na protecção da natureza. Também precisa-se, antes de desencadear qualquer pesquisa que coloque em risco o meio ambiente, reunir os bioéticos, filósofos e representantes da sociedade e do governo de modo a traçar estratégias de acção que não emperigam a sobrevivência do ecossistema e do próprio homem.



BIBLIOGRAFIA

AA.VV., Geografia 9, sl: Constância Editores, 1996.

ALVES, Fátima, AREDES, José, CARVALHO, José,
A Chave do Saber: Introdução à Filosofia, 11º ano, Lisboa: Texto Editora, 1998.

CHIAVACCI, Enrico,
Breves Lições de Bioética, Maputo: Paulinas, 2004.

MARQUES, António, SANTOS, Leonel R. Dos,
Filosofia 1, 3ª ed., Lisboa: A Regra do Jogo Edições, 1980.

NGOENHA, Severino E.,
O Retorno do Bom Selvagem: Uma Perspectiva Filisófica-Africana do Problema Ecológico. Lisboa: Edições Salesianas, 1994.

GALIMBERTI, U.,
Técnica e Natureza: a Inversão duma Relação, Florianópolis, Socitec e-prints, vol. 1, nº 1, Janeiro – Junho 2005, disponível em “http://www.socitec.pro.br/e-prints_vol.1_n.1_tecnica_e_natureza.pdf”, acessado em 23/04/2007.

[1] Para mais detalhes consulte: Técnica e Natureza: a Inversão duma Relação, Florianópolis, Socitec e-prints, vol. 1, nº 1, Janeiro – Junho 2005, disponível em “http://www.socitec.pro.br/e-prints_vol.1_n.1_tecnica_e_natureza.pdf”, acessado em 23/04/2007.
[2] HEDEGGER, Martin, entrevista à revista Der Spiegel, nº 23, 1976 apud MARQUES, António, SANTOS, Leonel R. Dos, Filosofia 1, 3ª ed., Lisboa: A Regra do Jogo Edições, 1980.

[3] Ao tirar o que estava dentro do solo significa que, com a técnica moderna aplicada pelo homem nas pesquisa de minerais e outras substâncias, estes produtos naturais sofrem desocultamento, isto é, o que estava escondido, segredado sai vem diante do homem através da provocação científica e técnica.
[4] Queremos tomar como fontes amigas do homem aquelas que, ao usarmos, não coloquem em perigo a saúde dos homens. Pode-se citar como exemplo o uso do gás natural nas indústrias; energia eléctrica com base nas máquinas que funcionem a gás e energia hidráulica. Não queremos dizer que estes meios de produção de energia não têm efeitos negativos mas estes efeitos não são muito alarmantes.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

É NECESSÁRIA UMA EDUCAÇÃO RACIONAL

Por Venâncio F. Chaúque

Resumo
Ao analisar a educação em Moçambique confrontamo-nos com uma característica dominante que, segundo as nossas observações, é dominada por um descanso "cognitivo" durante o acto da leccionação e de aprendizagem. Sendo assim, vemos a necessidade de buscarmos e reflectirmos sobre um caso não menos importante, do que devia ser referência da nossa acção pedagógica. Educar para transformar, ou seja, para moldar comportamentos e para agir (acção) devem constituir as tendências da educação racional que aqui apresentamos tendo em conta que a sociedade e cultura têm elementos fundamentais para o desenvolvimento humano e dum estilo educacional melhor. E isso não nos falta.
Enfim, a presente abordagem pretende ser reflexiva e sugestiva em volta desta realidade fazendo uma coadunância entre a realidade concreta e aquilo que devia ser.
Palavras - chave:
Prática educativa, Senso comum, Curiosidade ingénua, Curiosidade epistemológica, Pensar certo, Transformar (ção), Libertação das mentes.
Ao observarmos o tema acima estampado aparece-nos logo um exagero na designação e classificação do sistema educacional que se desenvolve. Na verdade, não se pretende pôr a baixo o valor e a importância da educação ministrada nas instituições escolares nacionais, pretende-se fazer uma analise e reflexão sobre o tipo de educação desenvolvida para um dado povo a que se destina (neste caso, moçambicano).
Muitas vezes sentimos orgulho de conhecer bem a história geral—e não é mau—, a filosofia ocidental—que é a que domina na maior parte das lições dadas nas nossas escolas—a história e as teorias pedagógicas, em pensarmos que conhecer a actualidade das nações desenvolvidas é o que conta mais esquecendo se do que está a ocorrer ao nosso lado ; em fim, em contemplar as belezas construídas pelos outros. A nossa prática educativa torna-se contemplativa. A verdade é que precisamos de partir dos factos simples (como dizia Coménius e Paulo Freire acredita nisso) da nossa vivência diária para os complexos resultante da força cognitiva e intuitiva que possuímos. Precisamos de transformar o senso comum, na qual reside uma curiosidade ingénua, em curiosidade epistemológica (Cfr. FREIRE, Paulo; 1996: 34/ 35); o que implica que ainda não há cultura—e se existe, em pouca escala—de escrever, interpretar o que é a vida diária dos nossos povos, ou seja, não há uma autonomia própria dos nossos professores, muito menos dos alunos e tampouco dos estudantes universitários devido a sua fraca capacidade de produção cientifica. Na verdade, o grande desfio que se tem nas nossas escolas é a necessidade de ensinar a pensar certo (Cfr. FREIRE, Paulo; 1996: 41) que irá ajudar mais na criação de capacidade de iniciativa, opção, reflexiva e crítica nos alunos de modo a transformar a realidade vivida nas diferentes etnias do país em pensamento útil.
Cada etnia, é uma realidade rica em valores e em ensinamentos importantes para o sistema educacional, de modo que haja uma «relação entre a educação e transformação da sociedade» (FREIRE e NOGUEIRA; 1993: 17). Este é um dos grandes objectivos ou finalidades da educação em Paulo Freire: a libertação dos povos. Diríamos libertação da consciência, do pensar e, por conseguinte, a implementação do seu pensamento. Dito isto por outras palavras, a educação não terminaria só no ensinar para saber, ganhar novos conhecimentos e encher a cabeça. Trata-se porém, de educar para agir, transformar «...porque uma aprendizagem, seja ela qual for (aquisição de conhecimentos, de competências , de aptidões para a comunicação oral ou escrita) deve ser concebida e Guida de modo a ter efeitos positivos nos campos do Saber, do Saber—Fazer e do Saber Estar (comportamentos económicos, métodos de trabalhos, etc.) das pessoas» (NIZA, Sérgio dir.; 1975: 80). Isto significa que a educação servir-nos-ia de “instrumento certo” para a melhoria do modus vivendi, ou seja, para a transformação positiva da sociedade através da valorização dos seus valores culturais, dos seus saberes tradicionais. Esses saberes (que se supõem ingénuos), através da educação escolar, sofreriam transformação por meio da reflexão crítica e análise pormenorizada e atenta, procurando enquadrá-los no contexto histórico cultural que se vive.
Só tendo em conta estas considerações é que estaremos a caminhar rumo a uma educação racional. Uma educação não abstracta, não sonhativa, mas que pretende ser demonstrativa a partir da realidade vivida nas comunidades e nas famílias.
É claro que tudo isto passa necessariamente da existência de professores preparados e, sobretudo, capazes de ajudar os alunos a reflectirem sobre a sua maneira de conceber o mundo, sobre a maneira como a sociedade percebe a realidade, em fim, a pensar certo acompanhado por um alto nível ético. Para atingirmos este objectivo é preciso se desgrudar da “pedagogia da porrada” - a qual privilegia a imposição, o intimidamento, a varra para fazer saber os alunos, criando medo neles e uma educação impositora. Ainda que encontremos alunos confusos e rebeldes, o professor não deve esquecer a sua missão dentro da sala de aulas: a de ajudar os educandos a construir o conhecimento. Este é um desafio que o professor educador deve considerar no seu dia-a-dia. Com a introdução do Novo Currículo, a pedagogia da porrada tende a diminuir, mesmo que ainda encontremo-la nalguns casos específicos/ raros.
Outros casos que são notórios estão relacionados com o pensamento mecânico que tende a dominar os sujeitos da praxes educativa. Um aspecto indispensável e próprio da prática educativa é a libertação humana em todas as suas facetas. E, ao usarmos o pensamento mecânico tornamos presos e não livres. Ao falarmos da liberdade, muitas vezes pensamos naquela relacionada com a libertação carnal, que se pode notar com facilidade, (por exemplo: a escravatura, o trabalho forçado…) a qual foram submetidos vários homens, mulheres e crianças africanas durante cinco séculos. A essa opressão já nos livramos. O essencial na prática pedagógica actual é o impulso para a libertação das mentes criando possibilidades para a expressão e execução das aspirações o que repercutirá com a liberdade económica.
A libertação do medo, dos preconceitos, do provincianismo, dos estereótipos constitui pano de fundo para a superação da indisponibilidade cognitiva e científica que se verifica.
Muitos estudantes e académicos não experimentam o gosto pela escrita, pela leitura e até pela conservação gráfica das culturas e civilizações africanas. É legitimo lutarmos pela elevação económica porém, é muito melhor construirmos o nosso estar no mundo desenvolvendo teorias, pesquisando ou estudando as situações reais em que vivemos para posteriormente superarmos as dificuldades e problemas que a sociedade enfrenta. Isto é o que deve ser essencial para a prática educativa local.
Pode se construir várias universidades, academias, institutos superiores mas se não houver a libertação mental, dos preconceitos, do provincianismo, não se alcançará o objectivo essencial da educação: desenvolver o ser humano integral e harmoniosamente de modo a construir formas de comportamentos ajustado às normas aceites na sociedade, formas de Estar e de Ser contribuindo activamente para o bem estar da sociedade.
O estudo e a pesquisa devem constituir a forma de estar e de ser dos estudantes e, principalmente dos académicos.
Bibliografia
FREIRE, Paulo;
Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Pratica Educativa.15° ed., São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996, 165 p.
FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano;Que Fazer: Teoria e Pratica em Educação Popular. 4ª ed., Petrópolis: Vozes, 1993, 68 p.
NIZA, Sérgio (dir.); Técnicas de Educação: Guia Pratico de Alfabetização Funcional. Lisboa: Editorial Estampa, UNESCO, Aura Carvalho (trad.), 1975, 249 p.